30 anos de Choujin Sentai Jetman: o Super Sentai com visão autoral,o mais importante e único da franquia
Afinal de contas o que faz de Jetman especial?Algumas pessoas que assistiram Jetman não viram realmente o que tornava esta série especial,achando ter uma cara de novela ou algo do tipo mas tudo bem estamos aqui pra revelar o que tornou essa série um cult. Primeiramente precisamos entender o seu contexto histórico.Em 1989 a Toei pensou em dar uma inovada em Super Sentai com Turboranger.Dessa vez teríamos estudantes colegiais ao invés dos adultos de sempre e por causa da temática os mechas seriam carros,algo que era comum em robôs secundários da franquia que vinham na cola dos Transformers.Porém a coisa não foi como se imaginava,a audiência despencou bruscamente e no meio da série tentaram mudar todos os vilões mas não deu resultado.Acreditando que as inovações foram a causa da queda no Sentai seguinte tudo voltou a ser como era antes.Fiveman era um catadão de tudo que foi feito antes,tem elementos de Flashman,Liveman e outras equipes da época e os mechas voltam ao padrão militar com jatos e tanques.Porém novamente a audiência foi baixa,e tentaram de tudo pra fazer a audiência aumentar,desde trazer um ator renomado pra ser um novo vilão até marionetes narrando a obra porém a audiência foi ainda pior.Não foi culpa as inovações de Turboranger mas a falta de ousadia maior nelas pois não mudaram o status quo da franquia.Os personagens de Turboranger eram maduros demais pra adolescentes não sendo muito diferentes dos personagens que já vimos.Os vilões tinham o mesmo padrão.A escola que seria o diferencial é pouco explorada na série e o padrão de histórias era similar. Fiveman tinha 5 irmãos mas tal fator era explorado de forma bem rasa e tudo voltou a ser como antes então o que a franquia precisava era de uma renovação de verdade.Com isso a saída era finalizar a franquia ou talvez por em hiato.Pra isso tentaram uma última chance dessa vez tentando chamar a audiência não só das crianças mas dos adultos que viam Gorenger quando crianças e hoje estavam com seus filhos que acompanham as séries atuais.Pra isso chamaram um popular designer de monstros Keita Amemiya,que talvez por ser um artista, sua visão é bem mais diferenciada entre muitos diretores que tínhamos,tal qual Shotaro Ishinomori quando dirigiu um episódio do Kamen Rider original,um episódio diferenciado na fotografia,na filmagem,na câmera e seus ângulos e Amemiya também mostrou um potencial imenso artisticamente trazendo ângulos e estilo de filmagem que fugia do convencional.E Toshiki Inoue um roteirista já bem conhecido do meio do anime que inclusive escreveu episódios pra várias séries como com forte estilo dramático com fortes toques de romance,Eram eles que iam dar o tom mais maduro que tornou o diferencial da série e do qual é lembrada até hoje.Com carta branca pra fazer o que queriam,Jetman acabou indo além da sua estrutura comercial e com forte tom mais artístico e autoral que fez esse um Super Sentai diferente de tudo que existiu,uma série que não mudou sua estrutura,e sim subverteu mantendo muito do ar lúdico e mais infantil dessas produções ao inserir de volta os elementos que víamos em Gorenger como os monstros de apelo mais cômico vindo de distintos objetos como semáforos,tesouras etc..E com fortes tom de inspiração no anime Gatchaman da Tatsunoko de 1972 com temática de pássaros e aviação Jetman ganha vida em 1991.
Jetman ainda é uma série infantil,com seus heróis coloridos em roupas colantes,as frases de efeito,situações heróicas,vilões cruéis e autoritários que gargalhavam e tinham suas frases de efeito típicas de outros vilões mas a bordagem de Jetman era diferente.Logo pela abertura a gente já percebe algo diferente,é difícil explicar mas toda vez que ouço essa abertura ela me parece bem distinta de qualquer abertura de Super Sentai que existia.O Hironobu Kageyama ainda era o interprete mas não era nas como as músicas de Changeman e Jetman,parecia algo mais calmo,é bem difícil falar o que,só sentindo ao ouvir. Da mesma forma que o belo encerramento fazendo homenagem ao cinema clássico e a aviação,é a mais bela canção do repertório do Hironobu Kageyama,eu nunca ouvi nada parecido,mesmo o ED de Battle Fever também sendo bem diferente e mais emocional,esse tema quando ouço provoca um sentimento único em mim .E a abordagem da série também era.Normalmente séries de heróis são feitas num ambiente mais lúdico,mais heróico e maniqueísta,os personagens são heróis já de corpo e alma,sem falhas e preparados que aceitam a causa rapidamente,inclusive fazendo amizade entre sí de maneira rápida e funcional.Isso também pelo fato de tudo ser mais apressado pela forma de a produtora sentir a necessidade de vender rapidamente o produto colocando os heróis pra assumir a luta e se tornarem os heróis logo de cara se rodeios ou firulas porque eles precisam imediatamente chamar a atenção das crianças e mostrar a que veio,e criar um ambiente onde o herói precisa aprender a lutar não é o mais adequado nessa questão.
Em Jetman temos uma abordagem mais madura e mais cinza e menos preto no branco.Ainda existe um império do mal querendo conquistar a Terra.Ainda existem os heróis em suas roupas colantes e nas poses de apresentação.Porém existe um fator maior,que é a humanização dos personagens.Já existiam séries humanizando personagens como Flashman cuja causa dos protagonistas era uma busca pessoal pra encontrar a família perdida após 20 anos criados em outros planetas e Liveman onde os vilões eram amigos dos protagonistas e tinham um desenvolvimento especial nunca visto em séries antes delas,mas Jetman elevou isso a um patamar mais alto pois a humanização em Flashman e Liveman não altera drasticamente a forma como a narrativa flui apesar do tom ser mais sentimental e dramático.Em Jetman existia uma maior aproximação com a realidade nesse aspecto,pois antes heróis eram mais unidimensionais.Era de relação de amizade rápida,se relacionar entre sí então, era quase proibido.Só a causa importava. Os heróis de Jetman possuiam mais camadas em e nas suas personalidades e até com certo tom de realismo em suas ações.Pra ilustrar isso já temos o seu inicial. Imagina então quando um projeto do exército cujas energias Birdonic,capazes de transformar humanos comuns em supersoldados vão parar por acidente durante uma invasão dos vilões de outra dimensão chamados Vyram vão parar em pessoas comuns que não são soldados?eles aceitariam lutar pela humanidade logo de cara?Aqui não,o único personagem que representa o arquétipo do herói de Sentai clássico é o Ryu,pois ele está sempre empenhado com a causa de salvar a Terra,é o único com experiência militar e isso reflete na personalidade mais apegada ao sentimento de defesa da Terra,quer sempre fazer o certo,agir de forma correta e heróica,ele seria oa rquétipo do herói clássico de Tokusatsu ou mesmo do líder vermelho de qualquer equipe oitentista porém até mesmo ele tinha camadas a mais,pois ele na verdade fugia do fato de ter perdido amada no ataque de Vyram,que fica mais escancarado quando ele descobre que sua amada Rie era na verdade a vilã Maria,onde ele fica perturbado por esse fator chegando até a atrapalhar o grupo e entrando em um estado mais depressivo.Ele inclusive tinha delírios imaginando que Rie estava junto dele num balanço de tão perturbado estava ao descobrir que ela era sua inimiga. Ele também possui um lado preguiçoso como revelado no episódio onde a bebida revelava o interior dos heróis,mostrando que ele se força a agir de maneira heróica e determinada e no fndo ele queria fugir daquilo e relaxar..Por esses fatores Ryu acaba afastando a investida de Kaoru que se apaixona por ele.Heróis de Sentai dificilmente se relacionam e no caso do Ryu é mostradod e forma bem explicita na série isso poderia prejudicar o grupo,e a causa deles,mas não apenas isso,ele no fundo não esquecia a Rie,era impossível pra ele abrir seu coração pra outra mulher,esquecer o passado e seguir em frente. A amizade dos Jetman é construída muito mais lentamente,sempre orientados pela corajosa Aya Odagiri que chega até a pilotar um mecha pra ajudar a equipe.Até recrutar o grupo foi complicado. Raita não queria lutar,ele apenas quer cuidar de sua horta,se envolver em algo perigoso de cara não é algo que uma pessoa faria de verdade,então é bem compreensível sua atitude,até pouco tempo atrás ele era só um simples fazendeiro e de repente ele é convocado pra arriscar a vida lutando contra monstros. Ako toparia mais por alta quantia de dinheiro,apesar de jovem ela é bem ambiciosa e quer ter grana pra ter fama e Kaoru uma rica jovem,acreditando ser uma experiencia excitante de sua vida regrada topa de cara.Seu lado ingênuo é uma coisa que ela precisa superar lutando como Jetman inclusive. E tem Gai,um boêmio apostador,que quer apenas viver em liberdade,sem seguir ordens,cantando belas mulheres e tocando seu sax no bar enquanto bebe e fuma seu charuto.Um cara completamente o oposto de Ryu e tudo aquilo que um herói não seria. Ele e Ryu não se dão bem de cara por serem totais opostos,porém Gai esconde seu bom mocismo numa máscara de anti-social valentão,e pra mostrar que Jetman humaniza seus personagens até o mais livre dos lobos solitários também sabe amar e ele se apaixona por Kaori e não tem medo de assumir esse amor,porém o empecilho é o sentimento que a garota tem por Ryu,criando o triângulo amoroso da série,algo que Inoue adora e repetiria a dose em Kamen Rider 555 e Kiva. Isso tudo deixa os personagens mais empáticos ao telespectador,e as situações tinham um peso maior.Levou muitos episódios pra convencer os 4 a se juntarem a causa,levou tempo pra se aprender a lutar,até mesmo a combinação do robô gigante teve de ter um treino.E se os heróis são bem trabalhados os vilões não ficam atrás.Os Vyram são mais complexos que outros vilões,eles agem de fato como pessoas cruéis.Normalmente vilões são fiéis ao seu imperador e o obedecem até mesmo dando a vida pra atingir seus objetivos certo?não em Jetman. Aqui os vilões são traiçoeiros,eles competem entre sí por glória e diversão,e se necessário até mesmo traem sua imperatriz como Radiguet que matou sua imperatriz Juuza depois de recobrar a memória quando punido por ela e virou um humano sem memórias. Tran que era caçoado por ser uma criança cresce no meio da série se tornando o cruel Tranza que se autoproclama líder e subjulga seus companheiros.O mais humano deles era Grey,um robô que agia como humano,gostava de beber(?),fumar(?),ouvir música,tocar piano e durante a série ele demonstra não ser só mais humano que seus companheiros de equipe como ele passa a ter um sentimento de afeto e proteção pela vilã Maria(talvez até mesmo amor) sempre a ajudando.Talvez nem ele mesmo soubesse o porque mas ele mostra sua sensibilidade mais humana quando vê Maria inconscientemente tocar piano,algo que ela fazia quando era Rie,uma melodia que o toca profundamente o deixando maravilhado. Ele inclusive pede até mesmo ajuda dos Jetman pra protege-la diversas vezes até mesmo não querendo que ela virasse uma vampira no final da série e perdesse sua humanidade. Gray é o contraste entre um robô que mostra ser mais humano do que muitos humanos.
E não era apenas nos personagens que Jetman brilhava,existia muitos episódios com tons maduros e subtextos que crianças nunca poderiam captar.No episódio onde os Jetman tomam uma bebida que revela o lado que eles ocultam mostram que as pessoas são muito mais do que aparentam ser,num episódio onde Kaori volta a sua vida real sendo proposta por um cara rico mostra a superficialidade dele,que mostra egoísmo e covardia.Muitos ataques dos Vyram são diretamente atrelados a o lado mais obscuro da humanidade.no episódio onde Ako joga um ursinho de pelúcia no lixo por estar crescida e achar que não era mais pra ela,Maria acaba transformado sem querer em monstro se tornando um amontoado de lixo,sendo menosprezado pelas pessoas apesar do bom coração.Sendo acolhido por Ako ele acaba usado pra devorar o lixo de um depósito onde vemos a maior critica social feita e a coisa quem mais destaco nesse episódio,quando vemos empresas descartando objetos novos pra fazer estoque,jogando produtos novos no lixo,isso foi o que mais chamou atenção desse episódio principalmente o modo que ele termina.Os episódios onde Amemiya e Inoue trabalham são diferentes na fotografia e na estética tendo uma abordagem que mais lembra os Dramas,as novelas japonesas.Um episódio marcante é quando Maria cai durante um combate e Gray a leva numa caverna onde está chovendo.Ela sentia febre e frio e tenta obter calor abraçando ele,porém o seu corpo de metal não possui calor humano,isso deixa Gray bem sentido,por ser um robô,não pode usar seu corpo,mostrando que seu amor é impossível.Nesse episódio chama atenção um robô descartado por Vyram,por ser gentil e fraco,sendo considerado inútil,ele fica o tempo todo atrás de Gray sem rumo tendo um fim bem melancólico.O vilão Tranza acaba sendo humilhado por Radiguet e ao invés de morrer como de costume pelos heróis é internado num asilo psiquiátrico com doença mental,algo que me fez ficar bem chocado como a forma que é conduzida.Nunca iri imaginar algo assim vindo de uma série Super Sentai.Até hoje isso ficou marcado na memória como o fim mais ousado já criado para um vilão.
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Obviamente pra amenizar esse clima mais direcionado a adultos,Jetman ainda mantém os seus aspectos infantis,inclusive ele trás de volta os monstros de aparência mais infantil que tínhamos no inicio como em Gorenger onde eles eram feitos de objetos como semáforos,máquinas de bebidas e até rámen,algo que novamente se tornou padrão dessa época em diante,e como Inoue fez apenas cerca de 29 episódios junto de Amemiya os demais seguem um estilo mais similar aos Sentai anteriores.
Conforme a série avança a relação entre os Jetman se fortalece. Gai e Ryu que se estranhavam e saiam no soco viram grandes amigos,e os Jetman passam por episódios de grandes transformações,revelando o herói dentro de cada um.Mesmo que no início muitos não mostravam ser heróicos eles vão aprendendo a ser ao longo da jornada. É comovente ver Kaori no episódio onde ela falha em um treino com seu jato e fica psicologicamente abalada,com medo que deixa suas pernas paralisadas,num momento de perigo achar a determinação e coragem pra voltar a lutar e salvar seus amigos. Ela mesmo tendo seus avanços rejeitados por Ryu não desisite dele,ela inclusive mostra que mesmo sendo um grupo de heróis que precisam salvar o mundo acima de tudo eles são humanos e não máquinas,ela não pode evitar o que sente,na contramão do que normalmente o Super Sentai mostra em seu grupo.Esse diálogo é realmente representa a essência do que Jetman é. Ako,a adolescente teve de crescer e lidar com a perda de uma pessoa amada,Raita teve que superar a sua paixão secreta por Kaori,vendo que ele não tinha chances diante do Ryu acabando por apoia-la. Gai ao perceber que viver um relacionamento com Kaori tira aquilo que ele mais gosta,que é viver em liberdade,desiste dela e até Ryu tem que superar a perda de Rie que morre ao voltar ao normal ao protege-lo de um ataque e finalmente seguir em frente e aceitar Kaori. E aquilo que mais chama atenção e fez de Jetman conhecido,após salvar o mundo antes do casamento de Ryu e Kaori Gai é morto por uma facada por um assaltante,mostrando que mesmo com o mundo salvo o problemas da nossa sociedade e do nosso lado obscuro ainda persistem mesmo com o mudando em paz.A cena que Gai esconde de seus amigos que está fatalmente ferido pra não os preocupar e tirar aquele momento de felicidade,olhando pro céu azul que ao mesmo tempo representa o ideal de viver livre de gai quanto a metáfora de Jetmans ser tanto sobre pássaros e aviões que voam livremente pelos céus é o mais tocante e memorável que eu já vi.
Tudo isso fez Jetman virar um cult gerando até mangás com aspecto mais adulto após sua finalização. Amemiya e Inoue retornaram mais uma vez na bela homenagem na série de 2011 Gokaiger onde personagens da franquia retornam e a homenagem de Jetman trouxe o espírito de Gai protegendo seus amigos que levavam uma vida normal impedindo de voltar a lutar,de um jeito poético que a franquia merecia no seu aniversário de 20 anos por sinal.Foi uma série tão marcante que os designs da SNK a famosa empresa de jogos homenageou a série nos seus personagens do Ikari Warriors Team.Em The King of Fighters’96 Leona tem uma apresentação onde ela veste uma roupa igual a comandante Aya,Clark e Ralf fazem a famosa roll call,a pose de apresentação de Sentai onde reproduzem as apresentações de Redhawk e Blackcondor. A personagem Whip tem um golpe onde ela prende o oponente num chicote e o arrasta pisando em sua cabeça igual uma cena da vilã Maria(que é minha vilã favorita junto de Nefer do Flashman),o que muitos não percebem e estranham já que Whip não é uma personagem sádica,é por conta dessa homenagem esse golpe. Gai virou o personagem favorito e o mais lembrado da franquia.
E é por isso que Jetman é diferenciado e especial.Os personagens de Super Sentai hoje tem mais camadas e desenvolvimento,tem um lado mais humano onde deixaram de ser o modelo de perfeição pras crianças pra serem mais humanos e mostrar que qualquer pessoa com algo diferente dentro de sí pode ser um herói e se superar pra ser um de verdade embora tenham mantido o jeito mais lúdico e menos realista que Jetman,e isso faz da série um diferencial até hoje e em 45 anos de franquia apenas Timeranger carregou o estilo e espirito dessa série até contando com Amemiya e Inoue entre a staff. E com uma boa média,7.1 de audiência deu a segunda chance que a franquia precisava cativando crianças e adultos pavimentando o caminho pra reinvenção que viria em Zyuranger no ano seguinte.E por tudo isso que essa série é tão importante. Jetman é literalmente que pode alçar voos mais altos e ir além do que um Tokusatsu pode.
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