Uma reflexão sobre Saint Seiya que de a obra mais importante do fandom otaku brasileiro foi rebaixado a apenas um anime que vive de nostalgia.Por que isso ocorreu? Parte 1: características da série
Saint Seiya é uma obra que dispensa apresentações pois foi responsável por criar todo um fandom otaku e pavimentar o anime nas nossas terras,algo que nenhum anime antes dele conseguiu fazerda mesma forma que Jaspion e Changeman fizeram pelo Tokusatsu.Porém hoje em dia Saint Seiya é um tanto mal visto principalmente pelas gerações mais novas e até pelo seu próprio fandom,excluindo os fiéis e apaixonados.Algo que muitos enxergam como uma obra ruím que sobrevive apenas da nostalgia dos tiozões e que não possui uma qualidade verdadeira e genuína,uma obra que envelheceu mal e parece brega e simplória.Existe entre fãs mais ortodoxos aqueles que entraram em contato com o mangá e passaram a enxergar o anime como uma adaptação malfeita e cheia de furos e mudanças que pioraram a história.Sim amigos e pra piorar a situação surgiu o seu spin-off mais famoso o The Lost Canvas que é considerada a melhor obra de Saint Seiya sendo muito superior ao original,e muitos inclusive começam a rebaixar o criador original Masami Kurumada com a autora Shiori Teshirogi vista como uma “autora de verdade que sabe realmente conduzir uma trama melhor que seu criador original” o que gera uma divisão do fandom entre os que idolatram Lost Canvas e os que amam a série original.Mas por que isso acontece?isso ocorre por tudo que falei aquele artigo sobre a falta de maturidade do fandom,eu sugiro que leia pra entender melhor o que vou dizer aqui mas mesmo assim eu vou explicar exatamente o que seria isso.Na verdade não importa o quão fanboy ou o quão hater você é sobre uma obra,e o que eu vou falar é uma verdade também: não importa o quão você seja critico,o quão você é capaz de enxergar as falhas de uma obra,você nem sempre possui conhecimento suficiente ou capacidade de compreender a essência de uma obra se você não tiver experiência,vivência e capacidade de aprender sobre aquilo que gosta,muitas dos seus argumentos simplesmente podem ser pura frescura,porque não se pratica algo essencial nos criadores de conteúdo de hoje: a capacidade de se refletir sobre o que está lendo e buscar mais conhecimento sobre o assunto e confundir suas próprias referencias pessoais como algo concreto e verdadeiro sobre uma obra.E podem ter certeza que a maioria das pessoas que leu Saint Seiya,viu seu anime,algum spin-off só tem na cabeça como clássicos a própria série ou Dragon Ball por ser da mesma época e nunca teve curiosidade de ver outras obras da época,eles usam conceitos atuais pra analisar essas obras e não conhecem sobre a forma de produzir anime ou entre inúmeras coisas são incapazes de refletir sobre,e isso acaba sendo tanto verdade que eu logo vejo um argumento ruím sobre a obra facilmente pois eu já adotei esses conceitos como minha própria filosofia e isso ajuda você a enxergar análises ruíns das boas.E também sei exatamente diferenciar conceitos e obras em suas respectivas épocas e não diminuir algo ra favorecer outro apenas porque parece superior,é algo mais fora da caixa do que você pensa.
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“Saint Seiya,de uma obra importante pro fandom otaku brasileiro hoje é menosprezado por simplesmente ter características clássicas em sua cerne”
A primeira coisa que a gente precisa entender sobre Saint Seiya é que Masami Kurumada é um autor dos anos 70.Por isso suas influências,conceitos e visões sobre como fazer um mangá vem dessa época.Tanto a narrativa como a forma de se criar personagens,as lutas e inúmeras coisas refletem exatamente essa época e qualquer autor de mangá da época vai fazer histórias similares narrativa e artisticamente como esteticamente idênticas a Saint Seiya.Era uma época onde os autores se preocupavam mais em contar sua história do que explicar tudo nos mínimos detalhes como é hoje,os vilões eram mais simples,as tramas também e isso tudo era perfeitamente normal.Logo pra não iludir ninguém é óbvio que as obras atuais são melhores em estrutura e conceitos,pois o mundo evolui,a forma de contar histórias também,e autores com novas idéias e influencias surgem e alteram os conceitos porém isso não torna as obras do passado ruíns,elas na verdade tem um papel fundamental,as obras atuais não existiriam sem elas assim como nós não existiríamos sem que nossos pais não existissem.Uma comparação boa sobre esse conceito é o Yamato de 74 e seu remake o 2199.Obviamente o remake é superior pois ele pega os conceitos,moderniza e os desenvolve melhor que a versão original,porém a versão original não fez nada necessariamente errado,apenas era assim que era naquela época e a série possui muitos elementos que se diferem da original e tem seu charme de época.E mesmo 2199 sendo um remake moderno ele preserva toda a essência do clássico,o respeitando.A mesma coisa é o The Lost Canvas: sua autora original é grande fã e nutre respeito pelo autor e por isso que não faz nada sem a aprovação daquele que sozinho criou todo esse conceito.Porém Shiori é um autora que recebe certa liberdade,e ela é uma autora dos tempos atuais,que modernizou os conceitos e elementos da série pra compor sua própria história,era óbvio que isso causasse essa impressão de superioridade,Shiori tem o privilégio de ser uma autora dos tempos atuais que respeita e admira o passado que a levou até aqui e os fãs não deveriam fazer o mesmo?pois é.A segunda coisa que temos que ter em mente é nos livrar dos padrões que todo mundo estabelece pra uma obra ser boa,e entender que existem inúmeras maneiras de uma obra ser boa e não necessariamente seguir um conjunto de regras,talvez a exceção é se ela pertencer a uma franquia que reutiliza os mesmos conceitos e clichês.Então o simples pode ser muito bom,o fato que comprova isso é o Dragon Ball que com uma narrativa essencialmente simples faz tudo tão bem feito que cativa gerações mesmo sem ter a abordagem mais complexa das séries atuais e isso é um mérito e tanto.A complexidade está no seu universo e conceitos e Saint Seiya é exatamente igual,e eu posso afirmar isso com toda certeza pois uma obra não é apenas plot twists,personagens incrivelmente complexos assim como vilões,as vezes pequenas coisas que muitos não dão valor é o que fazem a obra te cativar e no meu caso eu amo Saint Seiya até hoje pelo mesmo motivo que gostava dele no passado,o fato de histórias sobre amizade,superação,honra,amo ao próximo ainda fazer um tiozão como eu curtir mangás shonen e sua certa digamos “ingenuidade” e positividade até hoje,os personagens que conseguiram cativar seja orque você se empatiza com seu passado e motivações ou cativa pela coragem e determinação,ou pela mitologia grega que dá o tempo e sabor a obra que é utilizada de forma inteligente e interessante,o conceito das armaduras,ou seja motivos não faltam.Mesmo que uma luta pareça muito simples sem grandes estratégias por trás ainda te emocionam pelo que existe além delas,o significado.Então pra muitos protagonismo é um sinal de má escrita,pra outros é o que dá valor a determinação de não desistir e superar o impossível,algo que não é tão difícil de ver na vida real,o esporte é o maior exemplo de pessoas capazes de superar limites e fazer coisa inacreditáveis por o ser humano e seus sentimentos são capazes de fazer isso.É o que me faz sempre me emocionar em diversos momentos da obra como a luta entre Hyoga e Camus ou a parte do testamento de Aioros e a saga das Doze Casas ser algo tão marcante..E não estou só nessa,embora Lost Canvas tenha uma base de fãs,e de gente que exageradamente idolatra a obra ela não fez o sucesso comercial suficiente pra ter uma continuação,pois nem a modernização foi páreo pra falta que faz os personagens clássicos e o universo que estamos acostumados com seus diálogos grandiloquentes e seu estilo anos 70/80 e é por causa disso que a Toei anda insistindo em recriar a série visando tentar trazer novos fãs reimaginando a franquia pros padrões modernos e infelizmente criaram bombas como o filme em CG Lenda do Santuário e a versão Netflix que acabam não agradando nem um ou outro.A idolatria cega a Lost Canvas fez surgir inúmeras lendas urbanas como o cancelamento da série ter sido por pasmém,um ciúme do autor original com a Shiori por ela ter feito algo melhor que ele,é lamentável ver esse tipo de absurdo. Eu acho que a Toei precisa perceber o que ela quer com a obra,o fato é que a David Production fez Jojo’s Bizarre Adventure exatamente preservando o estilo anos 80 que tem e ele fez sucesso.Talvez seja pela obra ser propositalmente bizarra algo que causa menos estranheza ao público atual e a extensa estratégia elaborada do seu sistema de Stands que fazem muitos apreciarem as lutas.Eu acredito que obras como Hokuto no Ken também passariam pelo julgamento de não ser nada demais afinal,não existe conceitos do protagonista carismático que precisa evoluir,na verdade Kenshiro já é extremamente poderoso e mesmo lutas contra adversários fortes não duram muito fazendo muita gente chiar por causa disso,desviando os reais fatores que tornam a obra uma experiência interessante,mais ou menos parecido com o que fali de Saint Seiya.No fundo você vai ter que gostar da obra pelo que ela é e não pelo que deveria ser, e eu mesmo e levo isso em conta quando assisto animes que não são da minha época da década de 70.Já o Dragon Ball é bem menos datado talvez por ser um mundo próprio e por isso ele não sofre tanta rejeição.
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“Talvez os spin-offs de Saint Seiya tenham surgido pela percepção do próprio autor que precisava de autores com conceitos modernos pra atrair gente nova.Lost Canvas foi um deles mas também foi responsável por divisão do fandom sem querer que leva tudo como time de futebol”
Os valores morias ensinados nessas obras e que estão presentes no Shonen até hoje deveriam ser mais apreciados,hoje todo mundo só quer realismo,tudo explicado e justificados nos mínimos detalhes sem espaço pra interpretação e imaginação(basta ver como uma mudança de conceito muda totalmente a magia de uma obra quando George Lucas resolveu dar uma explicação cientifica sobre a Força que antes era algo mistico e misterioso e virou um mero parasita que se une a certos seres vivos,ficou terrível).Eu adoro histórias complexas e personagens humanos mas também dou valor aqueles personagens altruístas e nobres,eu acho que a gente precisa resgatar isso que se perdeu,Saint Seiya mesmo sendo um mangá de batalha é muito similar a um Tokusatsu,na verdade ele é uma série de heróis que você pode colocar ao lado de um Jaspion,Changeman ou algum outro,a série tem aquele heroísmo puro com personagens e suas frases de efeito,vilões perversos e suas risadas malignas e suas motivações mesquinhas e tudo isso é o charme dos anos 80,hoje muita coisa mudou e essa obra preserva tudo isso e me deixa feliz justamente por isso,pode chamar de brega ou o que você quiser,o termo que eu gosto de usar é o lúdico,que é o termo que dá valor a elementos clássicos da forma correta
Curiosamente outro que sofre este mal é Mighty Morphin Power Rangers com comentários de pessoas que tem medo de rever a série hoje estragar sua infância,ou achar que a série só era boa na sua lembrança,o famoso teste da nostalgia,na verdade a obra continua a mesma e ensina os mesmos valores,então o problema é mais com você do que com ela.Nesse caso muito do que eu disse também vale,tem gente que não entende o espirito de um Tokusatsu,que é uma obra infantil que mostra o mundo de uma forma pras crianças e seus maneirismos que precisam ser relevados numa análise,Saint Seiya também é uma obra feita pro público infanto-juvenil.Só que no fandom de Power Rangers algo que me deixa feliz é que muitos entendem como Mighty Morphin funciona e mesmo reconhecendo que a franquia foi bem aperfeiçoada em roteiro ou construção de personagem não menospreza a obra,eles entendem que aqueles personagens foram os mais marcantes de todas as séries e os mais lembrados e ser simples não significa ser ruím,é apenas ser diferente.Mas claro que tudo isso não quer dizer que você está passando pano,não é não reconhecer as falhas,apenas precisamos ser no minimo razoáveis com nossos argumentos e perceber que as vezes não sabemos tudo e nem muito.Ter senso critico não significa conhecimento e nem que você está sendo justo e animes são mais do que notas do My Anime List e padrões ideais.E pra deixar claro eu não me importo muito com os spin-offs nem acho que não mereçam existir até porque eles não interferem na história.Eu acho que o Saint Seiya clássico não precisa de nenhum reboot pra moderniza-lo você tem que gostar dele como ele é da mesma forma que alguém hoje for ver um Mazinger Z,um Yamato ou outra obra clássica.Por isso na parte 2 desse artigo eu vou fazer um comparativo das mudanças do mangá e o anime pra gente refletir melhor se tal coisa de fato ficou ruím ou não e o porque de tal mudança pra aqueles que menosprezaram o anime em detrimento ao mangá.
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